quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Ineptire est iuris gentium

Eu costumo parar para refletir em porque é mais fácil acolher uma mentira do que aceitar uma verdade.

As verdades são óbvias, e muita das vezes cercadas de tamanha simplicidade que a dificuldade é acreditar em como algo tão simples pode ser a verdade.

“Simplesmente o espírito não consegue descansar na verdade”. Monsenhor Marcel Lefebvre, em Do liberalismo à apostasia.

É porque as perguntas que fazemos a nós mesmos não são simples – aos nossos olhos. E por isso, imaginamos que qualquer que venha a ser a resposta a tais perguntas, que seja tolhida da mais alta complexidade para justificar a comum dificuldade de chegarmos a essa verdade por nós mesmos.

Porque eu não consigo alcançar tal coisa?

Ora, o “porque você não é capaz” é seco, e mais difícil de ser aceito do que o “é porque não era a sua hora, não era o momento, não era pra ser”. E convenhamos que ainda assim, não ameniza satisfatoriamente o gosto de uma frustração ou derrota.

Esconder nossos olhos por detrás de fantasias é um comportamento que deveria ser deixado para trás ainda na infância. Mas não somos de ferro, e recapitular a inocência das coisas chega a ser reconfortante, por mascararmos a realidade que nos cerca.

Essa realidade é crua, amarga. Treinamos por tanto tempo nossos olhos a evitá-la, e quando nos deparamos com ela, nos faz parecer ainda mais cruel do que realmente deveria.

A ignorância é uma bênção. A burrice e a maledicência são permitidas.

Digo o mesmo sobre a fé.

Elas nos mantêm por caminhos seguros, ainda que escuros. Dentro da caverna ainda estamos todos protegidos.

Dão-nos orientação suficiente para nos satisfazer nas trevas, nos mantêm aquecidos e unidos.

Nas palavras de Shopenhauer, a inépcia é um direito de todos [ineptire est iuris gentium]. Não há como tolher algo que é possível de ser inerente, ou melhor, é imanente a raça humana.

Aqueles que almejam a luz devem estar dispostos a suportar todas as conseqüências de suas escolhas, e o tormento de que essa é uma escolha sem volta. O caminho é árduo, e aqueles que por ele escolhem, caminham sozinhos.

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