sexta-feira, 9 de maio de 2008

Kant e eu: finalmente achei alguma relação coerente!

“Age como se a tua máxima devesse servir ao mesmo tempo de lei universal”

E tem-se aqui o imperativo categórico de Kant. Mas, ainda que pareça, não é simples conceber Kant apenas a partir dessa frase.
A principio, sua filosofia se dedica a tornar o dever puro para que dessa forma a ação possa se enquadrar nessa máxima. Puro de que? Puro de todas as inclinações que contaminam a razão.

Isso se aplica a todos nos, e é uma filosofia bonita de se compreender no sentido prático. Perdoem-me o exeplo ridículo que se seguirá.
Se você entra no ônibus e paga a passagem, faz isso por ser seu dever cumprido ou para que não se torne um alguém mal visto pelos demais passageiros que já pagaram a sua passagem?

Mas pense bem antes de responder isso. Vamos incrementar mais ainda o exemplo. Suponha que na sua frente, pulem a roleta dez indivíduos. Ainda sim, você pagaria a passagem realmente por dever ou por somente não causar má aparência?
Daí surge a própria dificuldade de Kant menciona em suas obras: a de distinguir quando um dever será puro.

E o dever deve-se partir de algo puro, mas o filosofo não faz nenhuma menção à metafísica em si, ao mundo inteligível. Se é inteligível é porque não conseguimos conhecê-lo, e se não conseguimos, de que adianta estudá-lo? (e foi nesse momento que Platão dançou o creu na tumba, de tão nervoso que ficou).
O dever deve partir do que é certo, e o que é certo, o costume nos dirá. É certo
pagar pelo que compramos, jogar lixo na lixeira, não ultrapassar o sinal vermelho, respeitar a religião? (exemplos corriqueiros). Então se deve a partir daí ao orientar a sua ação para que um dia, possa-se cogitar na possibilidade de se tornar uma lei universal.
Não basta fazer o que é certo para que sua ação se torne lei universal.

Vejamos
Por outro exemplo bem simples: Eusébio, prestes a ser preso por um crime que não cometeu, acaba assumindo a sua culpa para acobertar o filho. É certa a atitude dele? Talvez, de olhares piedosos, o julgamento possa ser esse. Mas ele está agindo em cima de uma inclinação, a de recear que o filho perca a sua vida atrás das grades, já que ele, velho, não tem muito mais o que viver (do ponto de vista dele, okay?). Isso faz com que essa ação jamais possa se tornar um imperativo categórico.
Querer uma lei universal em cima de uma mentira vai contra o cerne da filosofia de Kant.
Estou escrevendo isso, pois é uma conseqüência que a filosofia traz em mim. Influenciar-me enquanto na leitura de algum livro. De fato que o que mais me desestabiliza é Nietszche, mas outros também me causam momentos de reflexão.
Isso porque depois de ler Kant e conseguir entender ao menos uma parcela do que ele diz, tento adaptar isso na teoria da minha vida.

Admitir que seria aplicado na pratica seria hipocrisia minha, mas de fato a minha vida objetiva poderá ser influenciada com isso.

É claro que gostaria que minhas atitudes, não todas, mas as que considero mais louváveis, sejam dignas de formarem uma lei universal. Só que as vezes me seduzo por uma inclinação, a de ser admirada por ter feito o que devia fazer, e isso já me impede de torná-la um imperativo para Kant. Só para ilustrar, certa vez, a caminho do ponto de ônibus, uma mulher estava a minha frente, com o mesmo destino.
Assim que terminou de beber sua água, jogou a garrafa no chão (com uma lixeira praticamente ao lado). Daí, atrás dela, peguei a garrafa e coloquei no lixo, o que espantou muitas pessoas do ponto de ônibus que viram inclusive ela, se tiver visto. “Oh, a Lai salvou a cidade da sujeira!” Não, não é isso. Fiz o que é certo, mas com maior intenção ainda de causar na pessoa o quanto ela fez errado.

Confuso e ao mesmo tempo engraçado!
Mas é no que se resumem alguns filósofos, ao menos.